A mulher que comia dedos

Publicado em 2004 (WS editor), R$ 14,00 + frete
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O que mais impressiona, nestas narrativas de Ítalo Ogliari, é a capacidade de tornar estranho o que é trivial: o autor, dotado de sólida escrita, econômica e eficiente, transforma qualquer gesto num episódio em que a própria existência humana é posta em discussão. O bom leitor notará, aqui, algumas lembranças de escritores que previamente trilharam a mesma senda do insólito; nada mais natural, nada mais plausível; afinal, pertencemos, todos nós, a uma história e a uma cultura, e ambas não podem ser negadas. O que, entretanto, distingue Ítalo Ogliari de seus predecessores é um sentido de profunda humanidade, que impregna a narração como uma espécie de mainstream persistente e capaz de tocar o mais gélido leitor.
A estética do grotesco, agora tão estudada por teóricos, é um viés fecundo na literatura ocidental e, ao que parece, todos somos devedores de Edgar Allan Poe. No caso de Ítalo Ogliari, percebe-se um grotesco tocado por uma necessidade de existir, isto é: é um grotesco que sempre estará a serviço de uma idéia, o que elide a circularidade habitual do gênero. São contos que carregam uma outra perspectiva, sempre superadora de si mesma. Nada, aqui, é gratuito, e tudo encontra seu espaço. São contos que podem ser “fortes”, e algum temperamento mais débil terá espaço para o embaraço ou a franca repulsa; que fazer? A vida é feita também desses momentos, e pode ser - como é o caso - matéria de (boa) literatura.
Mas atenção: não são narrativas “fáceis”, daquelas sobre as quais não é preciso refletir muito; são, isto sim, contos em que o leitor é exigido a dar um passo além das meras palavras, pois estas apresentam uma pluralidade semântica que, se instauram um desejável subtexto, dão colorido interpretativo ao narrado. As múltiplas acepções, a propósito, são seu ponto alto, e o leitor deve estar atento a elas.
Por tudo isso, digo que Ítalo Ogliari é um jovem escritor que não rechaça a tradição, mas antes a recupera para, mediante as armas da (pós)modernidade, dar-lhe um sentido que fala aos homens de hoje.
A mulher que comia dedos (ou Contos de estranho I) é um livro que permanece em nossa mente após a leitura, e esse é o melhor indício de que estamos perante um texto superior.

Boa leitura.
Luiz Antonio de Assis Brasil
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Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Ítalo. Quero te parabenizar pele cara nova do bolog. Sucesso!!!